sábado, dezembro 27, 2008

no/sense

o brilho cego do cotovelo azul
chora a dor dos pássaros perdidos.
a faca lustra o colar de pedras
peixes saltam sorrindo, ariscos
do lado de
[dentro]
da caixa rosada
é hora do chá!

bebamos à prosa.

do lado de
fora
cozinham azulejos e
buscam vagalumes corridos no frio.







será o fim dos tempos? - pergunta alice.
no, stranger- sussura beatriz.



ocaos ades ordem espan tamas pala vrassem espaço.
comespaço.
come?
espaço, logo há:
b
a
i
x
o

"pausa"

é porque o mundo parece mudado, as coisas meio fora dos lugares. pessoas tratam pessoas como pessoas que tratam pessoas. lindo?
não.
procure uma etiqueta de preço em você. sério, ela tá aí, coloquei
ontem.

"pausadapausa"

o que hector queria era ser amado.
bastava ter alguém, qualquer alguém.
o que hector queria era ser, amado.

amem hector, bastardos!

volta.
a segunda, não a primeira.

e quanto àquele papo sobre pessoas usarem pessoas,
será que dava pra parar de fazer isso?
ou façamos um trato:
segundas, quartas e sextas você me usa.
aos domingos a gente reveza.

fim do ato.

volta da pausa, agora em bossa sincopada.

olha, que coisa.
mas linda, tão cheia.
de graça?
ah, de graça... ¬¬

agora, nem injeção na testa.
cobra-se por tudo. TUDO, entendeu?
tu, dó.

quer visitar a vovó?
pay it.
quer comer bem?
pay it.
quer um amorzinho?
pain, dammit.

dinheiro é um pedaço de papel
wrong.
dinheiro é informação.
deus é digital
doispontozero
1010
com a realidade.


quantas pessoas acordadas, agora?

segunda-feira, dezembro 15, 2008

we always have tabaco...

Quando toda a luz do mundo
ofuscar esse desejo,
será tão belo, e profundo.
Como um sereno solfejo.

Quando todo a ardor da vida
ir-se embora com seu beijo,
dir-te-ei, bela menina!
Liberdade, é o teu preço.

Se a lua hoje subisse
em arcos grandes e inspirados,
faria com que saísse,
de seu lar tão encantado?

Coração, redoma vítrea,
tão perene, descabido.
Que medos guarda em ti,
para assim ser, tão reprimido?

Se um dia, ao ocaso,
encontrarmes sem alarde
o acaso, com atraso,
te traria um belo latte?

Anoitece, quase chove
beijar-te-ia, mui querida.
Pois nesse mundo, em mesóclise,
sou paráfrase, afrodisíaca.

sábado, dezembro 13, 2008

análogos, mas prefiro anáguas.

Começa com uma fascinação, quase hipnótica. De repente, a noite mais fria e escura se acaba, e o calor preenche nossos corpos, o coração se acalma, e tudo é lindo de se ver, de sentir. Dá pra notar a sabedoria oculta por trás da beleza, tão velha quanto o mundo.

Era algo quente, do tipo que chega de repente, penetra nos poros, deixa a gente sem ar.
Quase vivo, marca de tal forma que o cheiro impregna, a garganta seca, os olhos se enchem de lágrimas.

Ardor.

Que nos turva a visão, que nos impede de apreciar a beleza, que sufoca. Chega a ser tão forte, que nos dá febre, náusea, vertigem. Não obstante, é leve, serena, bonita, até.

Mas consome, varre tudo que toca, despedaça, tira a cor, a vida, reduz tudo à cinzas, e tudo volta a ser frio, escuro e desolador.


Até que a chama se acenda novamente, pra iluminar o caminho.



Impressionante, o que um pouco de fogo e fumaça podem fazer com a alma.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

The way you look tonight...

E se eu te dissesse a verdade?


Se eu te contasse que no fundo, sou apenas um menino correndo da tempestade, que busca desesperadamente por abrigo, e que chora e ri, sente e sofre, como todos os meninos?


E se eu te dissesse o que sinto?
Se de repente, você soubesse que para mim a vida é como um filme, daqueles que a gente para e fica vendo os créditos subindo, sem perceber que acabou?

E se, para mim, você fosse como aquelas personagens que nos apaixonam, que marcam para sempre toda uma geração, e se eu dissesse que todo o sentimento, toda a luz, toda a alegria do mundo residem no seu sorriso, no azul cinzento dos teus olhos, na tua voz?

Você aceitaria? Sentiria medo? Correria?


E se você soubesse que, na verdade, você é dessas pessoas que a gente encontra na chuva, e que duram para sempre, não importa o que aconteça, não importa que o filme acabe, que os créditos subam, que a luz acenda.



O que você faria?
Seria?




sexta-feira, dezembro 05, 2008

Eu não sei fazer poesia.
Não sei rimar, palavras não me obedecem.
Concatenar e cerzir,
palavras são como éfãs,

silutram nurdente cadestras,
somente delite sinestras,
sempreram tonais lucaberes.

ilías, arcois, sucoperam.




não sei rimar.
para mim, palavras são como cães.
admiráveis, enfants.

domingo, novembro 23, 2008

pelas bolhas da champanhe que você bebe.

Do lado de cá é cinzento.

Vazio.

A fórmica há muito apodreceu, da parede descascada vem a lembrança, o piso empoeirado cheirando a mofo e limo, só para o meu prazer.

Do lado de cá é cinza, o vazio deixa tudo mais frio.

Sorriso.


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A velha gorda e suada mexe nas panelas, o vapor subindo e grudando em sua pele macilenta, condensando-se e voltando à sua origem, o tempero perfeito.

Há algo de simpático na velha, um reflexo pálido de uma outra era, quando a esperança e o sonho não tinham ainda encruado dentro do coração rançoso desta senhora, cuja única função é movimentar enormes colheres de pau, suar e resfolegar, cumprindo assim o papel que lhe cabe nessa história.


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Jeremy levanta da cadeira, subitamente alarmado pela lembrança de algo que deveria ter feito. A merda toda é que a coisa se complicou, e agora não resta mais muito tempo para ele. Deixar coisas de lado pode ser absurdamente libertador.

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Lídia caminha pelo parque, levando consigo nada além de sonhos e sorvete de menta. Do alto de sua juventude, transborda sonhos atrás de si, e estes vão tomando forma e se desfazendo à medida que ela se afasta. É um mundaréu de concatenações, todas em um leve tom rosado.

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O Mercado Central abriga a maior parte dos seres estranhos do universo. Bizarrices de todos os tipos convergem para aquele ponto, balbúrdia de cores, formas, sons, cheiros, braços, pernas, texturas sobrepostas a membros e órgãos, anões malabaristas siameses, putas gordas oferecendo o corpo por nada, barris de peixe e frutas, velhos chineses e seus elixires, macacos treinados por cegos, cabras, galinhas, penas e bosta seca. E no meio disso tudo, um cão observa.

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Sofro por não ter a oportunidade de dizer adeus.

Alimento minha dor, zelando por ela como quem cuida dos seus.

O Vazio preenche minha alma, de clichês.

Grito por não ter mais o que dizer.

Mato meu amor, com a frieza de quem já viveu.

Volto os olhos para a dor, e esta sou eu.

Rasgo minha vontade por você.

Castro meu desejo por você.

Te cuido, te adoro, sangro-te até morrer.

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- Olá, como vai?

- Indo, e você?

- Também.

- Bacana.

- ...

- To meio atrasado, eu... (olhando o relógio)

- Tudo bem, também tenho que ir. Bom te ver. (se afastando)

- É, você também.