terça-feira, dezembro 05, 2006

211

Se as coxas dela fossem um pouco mais grossas, ela seria perfeita. Pensando bem, com as pernas assim, a bunda dela nem deve ser tão boa. É mais a saia, que deixa esse ar de bunda misteriosa, arrebitada. Adoro saia plissada. Tenho que parar de olhar as mulheres nos ônibus, fico parecendo tarado. Dia desses, eu estava no 211, passando ali em frente ao shopping, e como eu detesto olhar pro shopping, comecei a olhar as mulheres no ônibus. Não tinha nenhuma, o que me fez ficar olhando o vazio. Tava sentado naquelas cadeiras de trem, sabe, aquelas, que você fica de frente pra outra pessoa, e ninguém nunca quer sentar, porque dá enjôo viajar de costas. "Viajar", como se de Jardim Camburi ao Centro fosse uma viagem. Já reparou que Viagem se escreve com "G", mas Viajar, com "J"? Por que será isso? Bem, algum daqueles velhos barbudos que cuidam da língua portuguesa e dizem que são da "Academia", eles devem saber... mas eu tava sentado numa dessas cadeiras, fiquei olhando o vazio. Sabe, quando você olha prum lugar, mas seus olhos não estão ali? Eu fiquei pensando, primeiro nessa coisa do g e do j, depois nessa história de olhar pra mulheres... por que o homem olha pras mulheres? Claro, tem a coisa do peito, bunda, coxa, tudo aquilo que a gente via na Playboy, escondido do pai, que se pegasse dava bronca mas morria de orgulho. Mas eu fiquei pensando... tem mais coisa. Tem essa eterna necessidade da gente ter alguém. Sabe essa coisa no peito? Que a gente precisa ter um colo, alguém pra chorar, alguém pra dividir tudo, pra chamar de meu amor. Tá certo, essa coisa toda é meio piegas, mas todo mundo tem. Não tem? Essa necessidade básica de se dividir, deixar de ser um, pra sentir o outro, ser o outro, sofrer pelo outro. Tava pensando... e aí percebi que tinha um cara me olhando. Bem na minha frente. Só aí me dei conta. Eu tava esse tempo todo olhando pra ele.