domingo, novembro 23, 2008

pelas bolhas da champanhe que você bebe.

Do lado de cá é cinzento.

Vazio.

A fórmica há muito apodreceu, da parede descascada vem a lembrança, o piso empoeirado cheirando a mofo e limo, só para o meu prazer.

Do lado de cá é cinza, o vazio deixa tudo mais frio.

Sorriso.


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A velha gorda e suada mexe nas panelas, o vapor subindo e grudando em sua pele macilenta, condensando-se e voltando à sua origem, o tempero perfeito.

Há algo de simpático na velha, um reflexo pálido de uma outra era, quando a esperança e o sonho não tinham ainda encruado dentro do coração rançoso desta senhora, cuja única função é movimentar enormes colheres de pau, suar e resfolegar, cumprindo assim o papel que lhe cabe nessa história.


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Jeremy levanta da cadeira, subitamente alarmado pela lembrança de algo que deveria ter feito. A merda toda é que a coisa se complicou, e agora não resta mais muito tempo para ele. Deixar coisas de lado pode ser absurdamente libertador.

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Lídia caminha pelo parque, levando consigo nada além de sonhos e sorvete de menta. Do alto de sua juventude, transborda sonhos atrás de si, e estes vão tomando forma e se desfazendo à medida que ela se afasta. É um mundaréu de concatenações, todas em um leve tom rosado.

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O Mercado Central abriga a maior parte dos seres estranhos do universo. Bizarrices de todos os tipos convergem para aquele ponto, balbúrdia de cores, formas, sons, cheiros, braços, pernas, texturas sobrepostas a membros e órgãos, anões malabaristas siameses, putas gordas oferecendo o corpo por nada, barris de peixe e frutas, velhos chineses e seus elixires, macacos treinados por cegos, cabras, galinhas, penas e bosta seca. E no meio disso tudo, um cão observa.

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Sofro por não ter a oportunidade de dizer adeus.

Alimento minha dor, zelando por ela como quem cuida dos seus.

O Vazio preenche minha alma, de clichês.

Grito por não ter mais o que dizer.

Mato meu amor, com a frieza de quem já viveu.

Volto os olhos para a dor, e esta sou eu.

Rasgo minha vontade por você.

Castro meu desejo por você.

Te cuido, te adoro, sangro-te até morrer.

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- Olá, como vai?

- Indo, e você?

- Também.

- Bacana.

- ...

- To meio atrasado, eu... (olhando o relógio)

- Tudo bem, também tenho que ir. Bom te ver. (se afastando)

- É, você também.